domingo, 16 de maio de 2010

Aí Se Sesse (Zé da Luz)

Se um dia nós se gosta-se
Se um dia nós se quere-se
se nós dois se emparea-se
Se juntim nós dois vive-se
Se juntim nós dois mora-se
Se juntim nós dois drumi-se
Se juntim nós dois morre-se
Se pro céu nós assubi-se
Mas porém se acontece-sede São Pedro não abri-se
a posta do céu e fossete dizer qualquer tolice
E se eu me arrimina-se
E tu com eu insinti-se
Prá que eu me arresolve-se
E a minha faca puxa-se
E o bucho do céu fura-se
Távez que nós dois fica-se
Távez que nós dois cai-se
E o céu furado arria-se
E as virgem todas fugir-se
*Pra fazer poesia e se falar de amor tem ser culto e correto?

2 comentários:

Anônimo disse...

Adoro...
boa lembrança!!!

Phierus disse...

Para se falar de amor, não! Para se fazer poesia, talvez. No entanto, essa poesia é belíssima.
A biografia de Zé da Luz não diz que ele era acadêmico formalmente, mas, presumivelmente, de forma autodidata ele era culto. Esse texto tem uma linguagem propositadamente errada. A sua beleza está, além de no conteúdo, no pitoresco e na coerência do estilo com o contexto, no ambiente, que pode se universalizar; no ritmo. O erro propositado, com reserva de característica, tudo bem. Mas como se podem expressar ideias, quando, salvo exceções como essa, as imagens confundem-se com a palavra exata que só pode menos dificilmente ser encontrada com um pouco de erudição, e quando a poesia enaltece-se pela correção da linguagem usada? Talvez não seja preciso ser-se muito instruído para se ter sentimentos poético, mas é preciso alguma literatura e plena correção para se escrever com elegância.